A História é feita com documentos após comprovada a autenticidade destes através da análise Paleográfica e Diplomática e, nomeadamente, através do cruzamento de informação destes mesmos documentos.
Também a História Oral é importante e muita informação chega-nos por esta via, embora em meu entender tenha de haver alguma reserva quanto à informação que nos é legada através de testemunhos orais: são as chamadas "estórias". Normalmente estas "estórias" partiram de um acontecimento verídico, no entanto, foram sendo "transformadas" ao longo dos tempos por quem as conta e pela conveniência de quem as conta, por exemplo: num testemunho oral, a pessoa que conta a "estória" do seu clube de futebol tem tendência a aumentar, fazendo mais do que é, é aquilo a que se pode dizer: quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto.
Apesar de tudo, isto não quer dizer que a História Oral não é importante, os testemunhos orais são importantes, sobretudo na História Local, mas há que ter certas reservas pelas razões que apresentadas.
Decidimos apresentar algumas dessas "estórias" ou lendas, de tradição oral que povoam a nossa terra, que nós próprios ouvimos de boca em boca, contudo, também houve o cuidado de não referir nomes, pois em algumas das "estórias" os factos são muito recentes e poderão ferir susceptibilidades entre os familiares dos visados.
Apresentamos seguidamente algumas "estórias": A Lenda da Sr. ª da Conceição; A Sr. ª da Conceição escondida na Cova da Mourisca; As Eleições do General Humberto Delgado em S. Miguel do Rio Torto.
A LENDA DA SR. ª DA CONCEIÇÃO
Antes de começar esta "estória", refiro que já a vi publicada na obra da Dr. ª Isilda Jana intitulada Histórias à Lareira e, segundo nota desta obra, editada em 1997, terá sido objecto de recolha de dois micaelenses citados na obra. Contudo, antes da obra ser publicada, quero frisar que já conhecia a "estória".
A Lenda da Sr. ª da Conceição que hoje está na capela de S. Miguel do Rio Torto está relacionada com as Invasões Francesas.
Em 1807, durante a primeira invasão francesa, o exército do General Andoche Junot chegava a Abrantes e, como é natural, do ponto de vista militar, Junot pretendeu um ponto estratégico importante e, nada melhor que o monte em que está situada a aldeia de S. Miguel do Rio Torto, pois tinha as condições estratégicas importantes: era um monte, ficava na margem do Tejo contrária a Abrantes. Como tal, enviou parte do seu exército para ocupar posições.
Dizem as lendas que as tropas francesas se terão aquartelado mais ou menos entre o Valongo e as Sarnadas (zona onde hoje está situada a capela) e que nessas tropas vinha um oficial francês de alta patente bastante ferido a quem terá valido uma habitante de S. Miguel do Rio Torto. Após ter recuperado dos ferimentos, o oficial francês terá dado a essa habitante a "Nossa Sr. ª da Conceição" que hoje está na capela em sinal de agradecimento, referindo até os comentários que passados muitos anos esse oficial terá vindo a S. Miguel do Rio Torto visitar a Sr. ª que o ajudou a recuperar dos ferimentos.
E assim foi a "estória" da chegada da Sr. ª da Conceição a S. Miguel do Rio Torto.
A SR. ª DA CONCEIÇÃO ESCONDIDA NA COVA DA MOURISCA
Neste caso as fontes orais não são unânimes quanto ao momento em que terá acontecido: umas referem que terá sido na primeira República.
Conta-se que terá tido a intenção de levarem a "Sr. ª da Conceição" para fora de S. Miguel e terá tentado a todo o custo levendo até a GNR para conseguir os seus intentos, contudo, diz a lenda, o povo de S. Miguel do Rio Torto, ter-se-á concentrado junto da capela e uma senhora, no meio da confusão, terá conseguido esconder a Santa debaixo da saia e no meio da confusão levá-la para lugar seguro: Diz-se que a teve escondida na "Cova da Mourisca" (local junto das Sarnadas) até a situação acalmar, altura em que regressou de novo ao altar.
AS ELEIÇÕES DO GENERAL HUMBERTO DELGADO EM S. MIGUEL DO RIO TORTO
Em 1958, a oposição ao Estado Novo, pela primeira vez não desistia das eleições com um sério candidato à Presidência da República que fez tremer o regime, para mais, um candidato da oposição que era um dissidente do Regime.
Tal como em muitos locais do país, estas eleições pautaram-se pela fraude eleitoral e elementos do Regime a fazerem o tudo por tudo para o Almirante Américo Tomás (candidado oficial do Regime) vencer.
Em S. Miguel do Rio Torto, diz-se, que dois importantes caudilhos do Regime fingiam ler o jornal e deitavam na urna de voto, boletins de voto favoráveis ao candidato do Regime, até que um dos principais membros da oposição Repúblicana se apercebeu e terá chegado à porta alarmando todos ao afirmar: Pessoal! Estamos a ser Roubados: eu vi-os a porem boletins de voto nas urnas!
Gerou-se a confusão, difícil de controlar para os elementos do regime, ao que o regedor terá ameaçado que o Regimento de Infantaria de Abrantes estaria pronto a disparar sobre a aldeia se a situação não voltasse à normalidade. De facto, as coisas voltaram à normalidade.
Ainda neste facto, será curioso relatar outra situação. Os eleitores das Arreciadas vinham votar a S. Miguel, como tal, os elementos do Regime foram às Arreciadas buscar os eleitores de carro para votarem no Américo Tomás, porém, à saída, um descaiu-se e disse que tinham votado no Humberto Delgado! Os elementos do Regime não os foram levar às Arreciadas: tiveram de ir a pé!
FICAM ASSIM APRESENTADAS ALGUMAS DAS "ESTÓRIAS" DE S. MIGUEL DO RIO TORTO.
BIBLIOGRAFIA
JANA, Isilda - Histórias à Lareira. Abrantes: Palha de Abrantes, 1997.
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