S. Miguel do Rio Torto: Actualidade e História

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Localização: Coimbra, Coimbra, Portugal

Natural de S. Miguel do Rio Torto (Abrantes). Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Estágio Profissional no Arquivo Histórico do Concelho de Abrantes. Pós-graduado em Ciências Documentais (Arquivo). Organizei e Inventariou o Arquivo da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Mestre em História - Museologia pela Universidade de Coimbra. Interesses de Investigação: Maçonaria, História da vida estudantil, História da Universidade, Patrimónios material e imaterial da vida estudantil. Museu Académico de Coimbra. Autor de vários livros como as biografias de Lucas Junot, Dr. Joaquim Isabelinha e de instituições como o Museu Académico de Coimbra. Actualmente sou técnico superior da Universidade de Coimbra e Mestre de Cerimónias Adjunto no Protocolo da Universidade de Coimbra.

sábado, janeiro 05, 2008

CANTAR OS REIS: UMA DAS TRADIÇÕES DE S. MIGUEL DO RIO TORTO


De quando emana tradição de se “Cantar os Reis” na noite de cinco para seis de Janeiro, não conseguimos encontrar referências, certo é que na Grande Enciclopédia Verbo apenas vinha a designação de “Janeiras” como musicas, descantes, que se fazem no primeiro dia do ano, o que não faz efectivamente alusão ao “Cantar os Reis” que é na noite de cinco para seis de Janeiro.
Uma coisa é certa, em todo o Portugal se vai “Cantar os Reis” na noite de cinco para seis de Janeiro, as letras e a música variam de lugar para lugar, por exemplo, José Afonso escreveu e musicou o “Natal dos Simples” que alude ao “Cantar as Janeiras”:

Vamos cantar as Janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Na Madeira (Caniço), por exemplo, a letra é outra:

Eu venho cantar os Reis,
Pela folhinha da vinha
Senhor(a), abra-me a porta
Que eu quero ver a lapinha

Refrão

E vós bem sabíeis
E vós bem sabeis
Que no dia de hojeí
Se cantava os Reis
Refrão

Eu venho cantar os Reis,
Não é por vinho nem pão
Eu venho a esta casa
Cumprir uma obrigação

Refrão

Eu venho cantar os Reis,
Pela folha da aboboreira
Senhor(a) abra-me a porta
Que estou nos pingos da beira

Refrão

Eu venho cantar os Reis,
Pela folhinha do feno
Senhor(a) abra-me a porta
Que estou na rua ao sereno

Refrão

Pelo buraco da chave,
Vejo surgir uma luz
Senhor(a) abra-me a porta
Pelas chagas de Jesus

Refrão

Eu venho cantar os Reis
Pela folhinha da giesta
Graças a Deus para sempre
Que já vejo a porta aberta


Em Trás-os-Montes já é com outra letra:

Aqui vem as três rosinhas
Quatro ou cinco ou seis
Se o senhor nos dá licença
Vimos lhe cantar os reis

Os três reis do oriente
Já chegaram a Belém
Visitar o Deus Menino
Que Nossa Senhora tem

O menino está no berço
Coberto c'o cobertor
E os anjinhos estão cantando
Louvado sej'o Senhor

O Senhor por ser Senhor
Nasceu nos tristes palheiros
Deixou cravos deixou rosas
Deixou lindos travesseiros

Também deixou a abelhinha
Abelhinha com o seu mel
Para fazer um docinho
Ao divino Emanuel

Você diz que tem bom vinho
có có có
Venha-nos dar de beber
Rintintinflorin-tintin
Traililairo

Em Coimbra, por exemplo, são os Ranchos Folclóricos do Concelho que vão a “Cantar os Reis” desde o “Portugal dos Pequenitos” até à Igreja de Santo António dos Olivais (embora o tempo pluvioso não esteja muito propício a isso).
Agora, que demos conta de várias regiões de Portugal, vamos passar ao caso concreto de S. Miguel do Rio Torto.
Em S. Miguel do Rio Torto, juntam-se grupos que vão “Cantar os Reis” nesta noite, podem ser pequenos ou grandes grupos, não há limite de pessoas no grupo, nem há limite de idade, vão dos mais novos aos mais velhos. Os que sabem tocar algum instrumento musical, tocam o que sabem, os que não sabem, cantam apenas. Entre os instrumentos musicais, podem-se levar os que se quiser, desde violas, pandeiretas, reco-reco, bombo, acordeão, etc, etc.
Depois, tudo obedece a um preceito de acordo com a letra (embora não nos recordemos dos versos todos, vão os que nos recordamos, se alguém se recordar que os envie para o mail …) que é a seguinte:

Cá me veio ao pensamento
Uma lembrança divina
Que a virgem nossa senhora
Há-de ser nossa madrinha

Há-de ser nossa madrinha
Que nos queira ajudar
E o nosso São José
Que nos queira acompanhar

Que nos queira acompanhar
Vem na nossa companhia
Vamos nós cantar os reis
Cantemos com alegria

Cantemos com alegria
Com muita paz e amor
Em louvor da cristandade
E do Cristo redentor


Seguidamente, a família da casa que tem a luz acesa, vem à porta até deixarmos de cantar, quando deixamos de cantar, segue-se o ofertório daquela casa que pode ser em género, nomeadamente chouriços, morcelas, farinheiras, podia ser bebida, ou dinheiro, ou convite para petiscarmos algo.
Seguidamente, em forma de agradecimento, entoamos para a família que fez a oferta os seguintes versos:

Pró ano cá voltaremos
Melhorados acharemos
Melhorados na saúde
E também no dinheiro

Esta é a situação que normalmente ocorre, pois também pode ocorrer a situação inversa, ou seja, estar a luz acesa, o grupo “Cantar os Reis” e não vir ninguém à porta para oferecer algo, então, neste caso a resposta é a seguinte:

Ou o chouriço está gordo
Ou a faca não quer cortar
Ou a Senhora é lambona
E não se quer levantar

E o Grupo segue o seu caminho a “Cantar os Reis”.
Depois, entre a "receita" do “Cantar os Reis”, os géneros e bebidas servem para um petisco com os elementos do grupo que participaram, enquanto que o dinheiro junto serve para custear as restantes despesas com o petisco e o que sobra é dividido equitativamente por todos os que foram “Cantar os Reis”. No meu tempo em S. Miguel do Rio Torto (fui muitas vezes cantar os Reis – a tocar viola), já os nossos pais falavam que também iam cantar quando jovens, o que leva a predizer que em S. Miguel do Rio Torto já deve remontar a tempos idos e esta tradição foi-se transmitindo pelas gerações.
Fica assim apresentado o que é o “Cantar os Reis”, um pouco pelo país e o destaque para S. Miguel do Rio Torto, pena é que não nos recordos da letra completa, como já referimos.
Certo é que não poderiamos deixar passar em claro este evento aqui no site.


IMAGEM: Instrumentos musicais, uma Guitarra Portuguesa e uma Viola, já que se pode levar qualquer instrumento musical, e não tinhamos nenhuma imagem do "Cantar os Reis" ficam os referidos istrumentos musicais a ilustrar o post.
BIBLIOGRAFIA

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Vol. XVI. Lisboa/Rio de Janeiro: Edições Enciclopédia Lda, S/D.

E os seguintes sites:

http://www.canico-online.com/cantar_reis.htm

http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/popular-reisDonoes.html

2 Comentários:

Blogger Ana disse...

Ol� Rui,

antes de mais parab�ns pelo blog dedicado a S. Miguel do Rio Torto. Descobri-o por acaso visto que me interesso pelo patrim�nio local da regi�o e gostaria de saber mais sobre esta terra...Gosto de fotografia tb e contava obter mais informa�o de modo a associar a hist�ria local, social e etnogr�fica...
Vou continuar a visitar este espa�o. Boa sorte!

6:40 da tarde  
Blogger Rui Lopes disse...

Cara Ana,

Obrigada pela visita.
Grande parte das coisassobre esta terra já estão on-line no blog, basta consultares os Arquivos do blog desde o início (embora também ainda falte muita informação). Tens personalidades várias que nasceram na Freguesia, tens os fontanários, tens as ruas, tens um estudo sobre a população, sobre os róis de confessados, sobre a evolução da Administraçao da Freguesia e os presidentes, entre outras coisas, basta fazeres uma consulta dos Arquivos do Blog.Mais alguma informação, podes contactar pelo mail que está indicado no blog.

Cumprimentos

R L

6:54 da tarde  

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